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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

- Capítulo 1 -

                       

       ESTAVA TUDO ESCURO E DESERTO. A rua estava cheia de papéis, e todas as casas estavam caindo aos pedaços. Pareciam abandonadas. Então, entrei na casa mais próxima, revestida com madeira escura que aparentava estar vazia há séculos. Subi as escadas que rangiam a cada passo que eu dava, fazendo um barulho que acordaria toda a vizinhança- se tivesse uma vizinhança- e entrei na casa.

       Ela era enorme. O cômodo onde eu estava provavelmente era a sala, pois o chão era coberto de um tapete felpudo, com uma lareira na parede e um sofá encardido e rasgado no canto da sala. Havia uma estante gigante, cheia de livros velhos, muitos, sem capa e uma mesa de madeira no centro, quebrada e cheia de buracos, provavelmente causados por cupins. Até que eu vi uma coisa que me chamou atenção...um rato? Talvez...então cheguei mais perto. É...definitivamente não era um rato. Não sei como fui pensar isso. Era impossível que fosse um rato, pois era 50 vezes- sem exagero- o tamanho de um. Mas não me arrisquei aproximar mais, sei lá o que poderia ser.

       Então eu ouvi um barulho...vinha da mesma direção do “rato” que eu tinha visto. Porém aquele barulho parecia mais um sussurro... Será que era alguém? A curiosidade era mais forte que o medo. Me aproximei e percebi o que era. Melhor, quem era. Uma garota de cabelos loiros prateados meio ondulados e olhos assustadoramente roxos e lacrimejados. As lágrimas encharcavam seu rosto pálido. Ela estava encolhida entre o sofá e a estante. E então ela repetiu o barulho. “Me ajuda...”. Ela disse tão baixo e entre soluços que foi difícil distinguir o que dizia.

       Mas antes que pudesse dizer ou fazer alguma coisa, me vi sendo balançado freneticamente por uma mulher de cabelos ruivos e ondulados. Tia Carl.

       - Jack! Acorda menino! Você tem que ir para o colégio! Já está...- olhou seu relógio de pulso rapidamente e voltou a falar- ...10 minutos atrasado! Vamos que, com sorte, você pega o ônibus escolar. - e saiu andando com passos firmes, acho que indo preparar o café da manhã.

       Bom, eu moro com minha tia, em uma pequena casa em Manhattan. Sou praticamente adotado. Meus pais me deixaram com tia Carl quando eu tinha apenas 1 ano. E sempre que pergunto algo sobre meus pais para minha tia, ela muda de assunto. Porém sempre diz que tenho olhos azul-esverdeados iguais ao de meu pai e cabelos castanho-claros iguais aos da minha mãe.

       Olhei para o despertador na mesa da cabeceira. Eram 7:30. Eu estava realmente atrasado. Ainda com sono, vesti uma camiseta branca com listras pretas, uma calça jeans, calcei meu converse, peguei um casaco, minha mochila e desci correndo as escadas sentindo o cheiro do café da manhã que provavelmente estava contaminando toda a casa. O cheiro de panquecas e ovos com bacon. Chegando na cozinha, sentei numa cadeira, enquanto Tia Carl colocava um pouco de cada coisa no meu prato.

        -Ah...bom-dia, desculpe ter te acordado daquela maneira, você estava atrasado e eu acordei meio estressada hoje- disse tia Carl, sorridente, enquanto colocava o resto do café em outro prato, provavelmente dela.

       - Por que acordou meio estressada?- perguntei um pouco antes de começar a comer as panquecas.

       - Ér...motivos...pessoais.- disse gaguejando um pouco. E antes que eu pudesse dizer alguma coisa, olhou para o relógio de pulso e falou com cara de espanto forçada, pois dava-se para perceber que o que ela estava sentindo era alívio por não precisar continuar a falar sobre o assunto.- Nossa, já são 8:00! É melhor você correr, para o ônibus não ir sem você!

       Mesmo querendo perguntar mais, tive que me conter em fazer isso mais tarde. Peguei a mochila, dei um tchauzinho com um aceno com a mão e sai correndo pela porta da cozinha até o ponto. Por sorte, o ônibus ainda não tinha saído. Entrei e vi Joe e Sophie acenarem para mim com os fones dos iPods nos ouvidos.

        Joe e Sophie Slowdmore eram irmãos quase-gêmeos, pois Sophie nasceu apenas dois minutos depois que Joe, porém não tinha a mesma aparência. Joe tinha cabelos pretos e olhos castanho-claros e Sophie tinha cabelos ruivos, da mesma cor que os de tia Carl, lisos e olhos verdes. Eram meus vizinhos, porém só os conheci naquele ano, no colégio e tinham a mesma idade que eu, 13 anos.

        - E aí Jack? Tudo beleza? Você demorou para chegar no ponto hoje...- Joe disse tirando os fones do ouvido.

       - Aham. É que eu acordei meio tarde hoje...dormi dez horas ontem terminando aquele trabalho de biologia.

       - Bah, pra quê fazer hoje se posso fazer amanhã? - disse dando um sorriso travesso.

       - Ah é? Pois pode ficar sabendo que o trabalho era pra hoje.- falou Sophie que só parecia ter percebido que estávamos conversando naquele momento, pois ainda estava tirando os fones do ouvido.

        - Ah...droga. - Joe resmungou e recolocou os fones.

        - Chegamos pirralhos! - berrou o motorista, Bob, da frente do ônibus usando seu boné de sempre, com WS no meio por cima dos cabelos oleosos e despenteados, encarando o ônibus pelos seus óculos triangulares - sim, os óculos eram MESMO triangulares- podem ir saindo, que eu não tenho o dia todo e...

        PLOFT. Uma bexiga de alguma coisa laranja gosmenta atingiu o motorista no rosto e desceu escorrendo, fazendo-o virar e parar de falar. Risos percorreram o ônibus.

       - Quem será o gênio que fez isso? - cochichou Joe levantando-se do banco e indo em direção a porta do ônibus.

       - Crianças nojentas, irritantes, ...eu ainda pego que está fazendo isso. Ah, mas eu pego mesmo...- o motorista estava resmungando e limpando seus óculos enquanto passávamos.

       - Não sei. Mas seja quem for, sou fã dele. - falei para os gêmeos e desci as escadas indo em direção ao colégio.

       Willstrong School. O colégio mais chato do mundo, com os professores mais legais. Meio estranho, mas verdade. Esse colégio foi praticamente feito para valentões e patricinhas, totalmente apoiados pelo diretor, que andam em bando - com exceção de alguns- , porém com os melhores professores que eu já tive- também com exceção, apenas do professor de história- . Foi num passeio super chato que eu conheci Joe e Sophie, que estavam brincando de forca enquanto o professor de história falava sobre a segunda guerra mundial. Odiávamos o professor de história. Não prestávamos atenção na aula. É íamos nos dar super bem. E foi o que aconteceu, viramos melhores amigos desde então.

       Andamos pela entrada do colégio, cheio de árvores e entramos pelas grandes portas de madeira. Aquele colégio era imenso. Dava, pelo menos, 15 vezes a minha casa. Andei pelo corredor, parei no meu armário, abri com minha chave e peguei meus livros.

      - Cara, que sorte! O armário de nós três são todos juntos nesse semestre! - comentou Sophie, também abrindo o armário ao lado.

       - Pois é! - dissemos eu e Joe ao mesmo tempo, e saindo em direção ao corredor das salas de aula.

        - Droga. A primeira aula é de história. - falei resmungando ao ver os nossos horários

       - Ah, você só deve estar brincando...deixa eu ver isso aqui- disse e puxou o horário da minha mão. - não, não está brincando. Só porque pensei que meu dia estava indo bem depois daquela bexiga...mas não tem problema. Porque nós vamos fazer o de sempre não é verdade?
       - Mas é claro! - disse Sophie e fomos em direção a sala de história.

       Toda aula de história, nós ficávamos jogando coisas como jogo da velha, forca, conversávamos, desenhávamos o professor com nossas incríveis técnicas de desenho- uma vez Joe desenhou e ele ficou parecendo uma galinha- e coisas parecidas. Só que o professor nunca percebia e ainda nos considerava seus melhores alunos.

       - Então, vamos fazer nossas obras de arte hoje? - disse e joguei minha mochila na última cadeira da terceira fileira, acompanhado por Joe e Sophie, que jogara as suas nas cadeiras do meu lado direito.

       - Mas é claro! Eu começo. Afinal, sou o melhor daqui, não é verdade? - disse Joe fazendo-nos rir.

       Então eu olhei para o lado e não consegui ouvir mais nada que Joe ou Sophie diziam. Uma garota estava sentada do meu lado esquerdo, seus cabelos loiros prateados caindo sobre os ombros, com um cachecol de listras pretas e roxas, um vestido de mangas compridas azul-bebê, olhando para o professor de história com seus olhos roxos. Era ela. A garota do meu sonho.

2 comentários:

  1. Oi ana, é Paula Mattos do Sartre. Adorei o Livro. Post mais

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  2. Yoow agora sou eu...
    Tá meio sumida em querida?
    Na verdade toda a galera tá pra mim...
    Mas eu descobri que o que vc postou sobre os gêmeos tá certo.
    É chamado de "gêmeos fraternos".
    Então você adivinhou!
    Continue escrevendo, pleeaasee!

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