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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

- Capítulo 2 -

        A garota do meu sonho. No Willstrong School. Na minha sala. Não podia ser, era muita coincidência...

       - Jack? Tá tudo bem? - perguntou Sophie preocupada, me fazendo voltar a olhar para os gêmeos e a perceber que devia estar parecendo um idiota olhando abobadado para a garota da minha esquerda.

       - Érr...Ahh...tudo sim, é que... - disse gaguejando, tentando achar alguma desculpa. Se eu falasse do sonho eles achariam que eu era maluco e que era só coincidência. Mas não acontecem coincidências assim. Eu acho - ...é que eu estava pensando em...Tia Carl.

       - Não é o que parecia... - cantarolou Joe com um sorrisinho irritante no rosto. - quem é ela?

       - Não sei. - disse e fuzilei-o com os olhos.

       - Mas então, o que aconteceu com Tia Carl? - perguntou Sophie tentando mudar de assunto.

       - Ela tá meio...estranha. Disse que acordou estressada, e não quer me dizer o porquê.

       - É mesmo. Ela sempre fala tudo pra você e...

       - CALA A BOCA TODO MUNDO! Vamos começar a aula.... - gritou o professor de história, Carlos, interrompendo Sophie e dando um susto em todos que imediatamente, olharam para o professor.

       - Correção: ele vai começar a chatice. - Joe resmungou e deu uma risadinha de deboche.

       - ...mas antes, vou apresentar a nova colega de vocês, que só pôde se juntar a nós no final do ano...que pena.- disse fazendo uma cara forçada de tristeza. Ele não sabia fingir. Parou de falar e fez um sinal com a mão para a garota a minha esquerda, que levantou-se e foi até a frente da sala, sendo acompanhada, a cada passo, pelos olhares e murmúrios de toda a turma. - queridos alunos, essa é Katherine Moonyshine.- torceu o nariz ao dizer queridos alunos.

      -Oi. - Katherine disse sorridente com sua voz doce e calma, dando um aceno com a mão.

       - OK, agora vai sentar. - disse e com nojo deu um empurrãozinho para que Katherine começasse a andar, que sentou-se e pegou um caderno e um estojo roxos- cara, essa garota só tinha coisas roxas?

       - Então vamos começar a aula! - disse o professor com sua voz grossa e alta.

       - Então vamos começar o anti-chatice! - sussurou Sophie com um sorrisinho no rosto.

       Passamos a aula toda desenhando, e de vez em quando eu olhava de esgueira para Katherine,  tentando ver algum sinal de tristeza ou lágrimas, mas não achava nada. Via apenas uma garota normal, prestando atenção na aula e fazendo anotações com seu lápis roxo.

       Como poderia ser aquela garota desesperada e triste do meu sonho?

       “Afinal, foi só um sonho” , pensava tentando convencer a mim mesmo, sentindo que, na verdade, foi mais real que um sonho. É, eu tava pirando.

       Então o sinal tocou.

       - Pirralhos, quero um trabalho de cinco folhas com um resumo sobre tudo que aprendemos esse ano, para segunda da semana que vem. Se não entregarem no dia, não receberão nota. Escolham uma dupla e mãos à obra! - falou o professor Carlos enquanto todos guardavam os materiais e saíam da sala.

       - Cara, esse professor é maluco?! - Joe falou indignado quando saímos da sala- Manda um trabalho sobre todos os assuntos do ano, para a última semana de aula!

       - E a gente acabou de terminar os exames de final de ano. - Sophie murmurou chateada, com os braços cruzados.

       - Não fiquem tão tristes porque agora é a melhor aula de todas...educação física! - Joe disse e caiu na gargalhada com Sophie.

       - Droga. Por favor, me diz que você tá brincando. - falei sem achar a menos graça no que ele tinha dito.

       - Não, nem um pouco. - disse, ainda ofegando, depois da crise de risos. - pode olhar o meu horário. - tirou um papel dobrado do bolso, desdobrou e me entregou. Peguei o papel e vi.

       - Aaah...‘‘10:00 - Educação Física com o professor Dynn.”. O dia não poderia ser melhor. Trabalho do professor Carlos. Educação física. O que mais falta acontecer? - disse chateado, jogando as mãos para o alto.
      
        Eu sou horrível, péssimo, deprimente, assustadoramente ruim em qualquer esporte. Por isso odeio educação física, desde os sete anos. E o pior, é que o professor cismou que eu tenho que jogar todas as vezes, pois diz que só assim vou melhorar. Mas ele já faz isso a seis anos. Eu me pergunto porque eu nunca mudo de professor.

       Sempre que jogo, acontece um desastre. Nós perdemos, eu faço gol contra, dou a bola para o adversário,... E, para deixar as coisas melhores ainda, Joe e Sophie são os melhores da série em todos os esportes. Bajulados pelo professor. E sempre ficam gozando da minha cara.

       - Vamos Jack, não vai ser tão ruim assim hoje. - Sophie disse dando palmadinhas no meu ombro.

       - É o que vocês falam em todas as aulas de educação física.Vamos, se não a gente se atrasa.

       E então, fomos em direção aos vestiários, já sentindo um frio na barriga que eu sempre sinto antes da educação física.

                                                                     --------


        - JACK STENFORD! - berrou o professor Dynn,  com uma prancheta numa mão e um lápis na outra, o cabelo loiro reluzente sob o boné com WS, e um apito pendurado no pescoço, sobre a blusa pólo vermelha que cobria seus músculos enormes.
      
       - Presente! - gritei em resposta e levantei a mão.

       - JOE SLOWDMORE! - berrou novamente o professor, percorrendo os olhos sobre os alunos sentados na bancada da quadra.

       - Eu tô aqui! - gritou Joe no meu ouvido, balançando o braço freneticamente.

       - AI! Quer me deixar surdo? - reclamei colocando a mão no ouvido.

       - Não. Se bem que não seria uma má idéia... - sussurou, a voz quase abafada pelos gritos do professor.

       - KATHERINE MOONYSHINE! - berrou o professor  Dynn novamente.

       - Presente! -  gritou do outro lado da bancada.

       - Será que o professor vai te colocar no jogo hoje? - perguntou Joe, quase gritando, para abafar os gritos do resto da turma.

       - O que você acha? - perguntei, também gritando.

       - Que não? - Sophie, que estava sentada do meu outro lado, disse e deu um sorriso.

       - Ah, claro. - falei ironicamente.

       - Ah, vamos lá, não é tão ruim assim. - Joe disse e passou a mão pelo meu ombro, não sei se queria me animar, mas se quisesse não estava conseguindo nem um pouco. - Você ainda melhora!

       - SOPHIE SLOWDMORE! - berrou o professor e Sophie gritou “aqui!” em resposta, levantando a mão.

       - Como se isso fosse possível. - falei baixinho.

       - Certo turma! Estão todos aqui! Vamos começar logo a aula, ok? - berrou o professor e, percebendo que poucos prestavam atenção no que ele dizia, soou o apito- cara, como eu odeio esse apito! Ele faz um som agudo  insuportável. Dá vontade de jogar no chão, quebar em pedaçinhos e queimar-, fazendo todos prestarem atenção nele- é, os professores sempre tem uma mania de chamar atenção. - Hoje vamos jogar basquete. Então vamos ao time! - disse com entusiasmo.

       - Stenford, os Slowdmore, Donny e Finny do lado direito da quadra contra Dinn, Puckerson, Chad, George e Borynd do lado esquerdo. O resto bate o time para a próxima rodada. O primeiro time começa com a bola. VAMOS AO JOGO GALERINHA! - disse, indicando para a quadra e ameaçando usar seu apito.
      
       Revirei os olhos e desci a bancada, junto com os outros alunos,parando do lado direito da quadra.

       - Vamos lá Jack. Hoje você vai se superar. - disse o professor dando palmadinhas no meu ombro e indo sentar-se na bancada.

       “Ah como eu queria que ele estivesse certo.” Pensei e dei um suspiro. Mas o que eu não sabia é que ele estava, mas não do modo como eu esperava.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

- Capítulo 1 -

                       

       ESTAVA TUDO ESCURO E DESERTO. A rua estava cheia de papéis, e todas as casas estavam caindo aos pedaços. Pareciam abandonadas. Então, entrei na casa mais próxima, revestida com madeira escura que aparentava estar vazia há séculos. Subi as escadas que rangiam a cada passo que eu dava, fazendo um barulho que acordaria toda a vizinhança- se tivesse uma vizinhança- e entrei na casa.

       Ela era enorme. O cômodo onde eu estava provavelmente era a sala, pois o chão era coberto de um tapete felpudo, com uma lareira na parede e um sofá encardido e rasgado no canto da sala. Havia uma estante gigante, cheia de livros velhos, muitos, sem capa e uma mesa de madeira no centro, quebrada e cheia de buracos, provavelmente causados por cupins. Até que eu vi uma coisa que me chamou atenção...um rato? Talvez...então cheguei mais perto. É...definitivamente não era um rato. Não sei como fui pensar isso. Era impossível que fosse um rato, pois era 50 vezes- sem exagero- o tamanho de um. Mas não me arrisquei aproximar mais, sei lá o que poderia ser.

       Então eu ouvi um barulho...vinha da mesma direção do “rato” que eu tinha visto. Porém aquele barulho parecia mais um sussurro... Será que era alguém? A curiosidade era mais forte que o medo. Me aproximei e percebi o que era. Melhor, quem era. Uma garota de cabelos loiros prateados meio ondulados e olhos assustadoramente roxos e lacrimejados. As lágrimas encharcavam seu rosto pálido. Ela estava encolhida entre o sofá e a estante. E então ela repetiu o barulho. “Me ajuda...”. Ela disse tão baixo e entre soluços que foi difícil distinguir o que dizia.

       Mas antes que pudesse dizer ou fazer alguma coisa, me vi sendo balançado freneticamente por uma mulher de cabelos ruivos e ondulados. Tia Carl.

       - Jack! Acorda menino! Você tem que ir para o colégio! Já está...- olhou seu relógio de pulso rapidamente e voltou a falar- ...10 minutos atrasado! Vamos que, com sorte, você pega o ônibus escolar. - e saiu andando com passos firmes, acho que indo preparar o café da manhã.

       Bom, eu moro com minha tia, em uma pequena casa em Manhattan. Sou praticamente adotado. Meus pais me deixaram com tia Carl quando eu tinha apenas 1 ano. E sempre que pergunto algo sobre meus pais para minha tia, ela muda de assunto. Porém sempre diz que tenho olhos azul-esverdeados iguais ao de meu pai e cabelos castanho-claros iguais aos da minha mãe.

       Olhei para o despertador na mesa da cabeceira. Eram 7:30. Eu estava realmente atrasado. Ainda com sono, vesti uma camiseta branca com listras pretas, uma calça jeans, calcei meu converse, peguei um casaco, minha mochila e desci correndo as escadas sentindo o cheiro do café da manhã que provavelmente estava contaminando toda a casa. O cheiro de panquecas e ovos com bacon. Chegando na cozinha, sentei numa cadeira, enquanto Tia Carl colocava um pouco de cada coisa no meu prato.

        -Ah...bom-dia, desculpe ter te acordado daquela maneira, você estava atrasado e eu acordei meio estressada hoje- disse tia Carl, sorridente, enquanto colocava o resto do café em outro prato, provavelmente dela.

       - Por que acordou meio estressada?- perguntei um pouco antes de começar a comer as panquecas.

       - Ér...motivos...pessoais.- disse gaguejando um pouco. E antes que eu pudesse dizer alguma coisa, olhou para o relógio de pulso e falou com cara de espanto forçada, pois dava-se para perceber que o que ela estava sentindo era alívio por não precisar continuar a falar sobre o assunto.- Nossa, já são 8:00! É melhor você correr, para o ônibus não ir sem você!

       Mesmo querendo perguntar mais, tive que me conter em fazer isso mais tarde. Peguei a mochila, dei um tchauzinho com um aceno com a mão e sai correndo pela porta da cozinha até o ponto. Por sorte, o ônibus ainda não tinha saído. Entrei e vi Joe e Sophie acenarem para mim com os fones dos iPods nos ouvidos.

        Joe e Sophie Slowdmore eram irmãos quase-gêmeos, pois Sophie nasceu apenas dois minutos depois que Joe, porém não tinha a mesma aparência. Joe tinha cabelos pretos e olhos castanho-claros e Sophie tinha cabelos ruivos, da mesma cor que os de tia Carl, lisos e olhos verdes. Eram meus vizinhos, porém só os conheci naquele ano, no colégio e tinham a mesma idade que eu, 13 anos.

        - E aí Jack? Tudo beleza? Você demorou para chegar no ponto hoje...- Joe disse tirando os fones do ouvido.

       - Aham. É que eu acordei meio tarde hoje...dormi dez horas ontem terminando aquele trabalho de biologia.

       - Bah, pra quê fazer hoje se posso fazer amanhã? - disse dando um sorriso travesso.

       - Ah é? Pois pode ficar sabendo que o trabalho era pra hoje.- falou Sophie que só parecia ter percebido que estávamos conversando naquele momento, pois ainda estava tirando os fones do ouvido.

        - Ah...droga. - Joe resmungou e recolocou os fones.

        - Chegamos pirralhos! - berrou o motorista, Bob, da frente do ônibus usando seu boné de sempre, com WS no meio por cima dos cabelos oleosos e despenteados, encarando o ônibus pelos seus óculos triangulares - sim, os óculos eram MESMO triangulares- podem ir saindo, que eu não tenho o dia todo e...

        PLOFT. Uma bexiga de alguma coisa laranja gosmenta atingiu o motorista no rosto e desceu escorrendo, fazendo-o virar e parar de falar. Risos percorreram o ônibus.

       - Quem será o gênio que fez isso? - cochichou Joe levantando-se do banco e indo em direção a porta do ônibus.

       - Crianças nojentas, irritantes, ...eu ainda pego que está fazendo isso. Ah, mas eu pego mesmo...- o motorista estava resmungando e limpando seus óculos enquanto passávamos.

       - Não sei. Mas seja quem for, sou fã dele. - falei para os gêmeos e desci as escadas indo em direção ao colégio.

       Willstrong School. O colégio mais chato do mundo, com os professores mais legais. Meio estranho, mas verdade. Esse colégio foi praticamente feito para valentões e patricinhas, totalmente apoiados pelo diretor, que andam em bando - com exceção de alguns- , porém com os melhores professores que eu já tive- também com exceção, apenas do professor de história- . Foi num passeio super chato que eu conheci Joe e Sophie, que estavam brincando de forca enquanto o professor de história falava sobre a segunda guerra mundial. Odiávamos o professor de história. Não prestávamos atenção na aula. É íamos nos dar super bem. E foi o que aconteceu, viramos melhores amigos desde então.

       Andamos pela entrada do colégio, cheio de árvores e entramos pelas grandes portas de madeira. Aquele colégio era imenso. Dava, pelo menos, 15 vezes a minha casa. Andei pelo corredor, parei no meu armário, abri com minha chave e peguei meus livros.

      - Cara, que sorte! O armário de nós três são todos juntos nesse semestre! - comentou Sophie, também abrindo o armário ao lado.

       - Pois é! - dissemos eu e Joe ao mesmo tempo, e saindo em direção ao corredor das salas de aula.

        - Droga. A primeira aula é de história. - falei resmungando ao ver os nossos horários

       - Ah, você só deve estar brincando...deixa eu ver isso aqui- disse e puxou o horário da minha mão. - não, não está brincando. Só porque pensei que meu dia estava indo bem depois daquela bexiga...mas não tem problema. Porque nós vamos fazer o de sempre não é verdade?
       - Mas é claro! - disse Sophie e fomos em direção a sala de história.

       Toda aula de história, nós ficávamos jogando coisas como jogo da velha, forca, conversávamos, desenhávamos o professor com nossas incríveis técnicas de desenho- uma vez Joe desenhou e ele ficou parecendo uma galinha- e coisas parecidas. Só que o professor nunca percebia e ainda nos considerava seus melhores alunos.

       - Então, vamos fazer nossas obras de arte hoje? - disse e joguei minha mochila na última cadeira da terceira fileira, acompanhado por Joe e Sophie, que jogara as suas nas cadeiras do meu lado direito.

       - Mas é claro! Eu começo. Afinal, sou o melhor daqui, não é verdade? - disse Joe fazendo-nos rir.

       Então eu olhei para o lado e não consegui ouvir mais nada que Joe ou Sophie diziam. Uma garota estava sentada do meu lado esquerdo, seus cabelos loiros prateados caindo sobre os ombros, com um cachecol de listras pretas e roxas, um vestido de mangas compridas azul-bebê, olhando para o professor de história com seus olhos roxos. Era ela. A garota do meu sonho.